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Neste final do ano de 2010 aconteceu uma importante e incisiva batalha contra traficantes de drogas no Rio de Janeiro. Sobre isso, três observações. A primeira é que, para quem não mora no Rio, o que se percebeu foi apenas um fato amplamente divulgado e que já começa a ser esquecido. Em breve estará relegado apenas a uma lembrança e depois nem isso. Assim foi moldado o comportamento do dócil povo brasileiro. A segunda observação é que esta batalha foi considerada uma vitória contra o tráfico a ponto de ser declarada, nas primeiras páginas de alguns jornais, praticamente como o extermínio do comércio ilegal de drogas. Será? A terceira observação é o tema deste texto. Trata-se de uma breve visão sobre a diferença entre esta luta e a verdadeira guerra que precisamos enfrentar.

A verdadeira guerra

Sem dúvida alguma foi muito importante esta vitória sobre o tráfico, especialmente para os moradores das regiões afetadas no Rio, mas a derradeira guerra é contra um inimigo muito maior. Um inimigo que é responsável por todos os problemas da humanidade e que age a partir de nós mesmos. Quando vencermos esta guerra seremos seres humanos melhores para quem os atuais problemas de tráfico de drogas, corrupção e outras destas primitivas ações serão meras lembranças de um passado grotesto . Esta guerra é contra o afastamento da maior parte da humanidade do seu real objetivo: a evolução e o amadurecimento espiritual. Esta guerra deve ser travada com inúmeras lutas contra a ignorância e contra a falta de visão e consciência a respeito da natureza humana.

Para facilitar o entendimento de muitos, nada como usar da imaginação. Visualize um mundo habitado por pessoas muito desenvolvidas, ninguém menor do que um Jesus, um Buda ou um Krishna. Num mundo com esse tipo de gente, poderiam haver guerras pelo poder terreno, roubos, subornos, armas e drogas como no nosso? Para que serviriam estas coisas para pessoas como estas? Agora visualize outro mundo habitado por pessoas não mais evoluídas do que cães selvagens. Neste mundo todos se preocupariam quase exclusivamente em sobreviver e procriar. Caçar, comer carne viva das presas e manter os territórios conquistados seriam atividades sumamente importantes. Ao imaginarmos um mundo superior e outro inferior ao nosso fica fácil se perceber que estamos num inevitável processo evolutivo. Através deste exercício também pode-se notar que ainda não nos livramos das características do mundo animal, pois, como eles, estamos ainda numa luta territorial e de poder material. Ora, o tráfico de drogas em si não é o problema, mas sim uma das consequências do nível de amadurecimento da maioria das pessoas. Estamos num mundo onde já existe gente que está acima da dependência da luta pelo poder material e que jamais roubaria ou se envolveria com qualquer atividade nefasta, como o comércio de drogas e armas. Mas, a maioria ainda não chegou a tanto. Logo, qual é a verdadeira guerra que devemos travar? Obviamente é aquela que serve para melhorarmos a nós mesmos. Essa é a guerra. O combate ao tráfico é apenas um pequeno paliativo de curto prazo para estancar uma ferida. Se o câncer é a doença, a guerra é combater as suas causas e os remédios contra as dores provocadas por ele são apenas combates dentro de uma estratégia maior. Será que este noticiadíssimo ataque ao tráfico no Rio faz parte de uma estratégia maior voltada ao nosso crescimento? Ou faz parte de algum outro plano não divulgado?

A verdadeira guerra é contra o que se opõe a nossa evolução e isto está dentro de nós, especialmente nos mais atrasados que, não por acaso, são os mais apegados ao poder terreno. Esta será uma longa guerra, mas toda grande jornada começa com a consciência de para onde se vai, do seu porquê, da intenção de fazê-la, de coragem e, finalmente, do primeiro passo na direção certa. Esta guerra implica em investir em educação espiritual, moral, social e histórica. Implica em ajudar a todos a terem consciência sobre quem são e quais os propósitos maiores da existência humana. E, consequentemente, em incentivar as necessidades humanas de amor e evolução.

Apesar de não haver nada mais a dizer, como quase todos só percebem as visíveis e noticiadas ocorrências de nossa sociedade como a totalidade da realidade, e não meras consequências do comportamento das pessoas, cabe então olharmos para o tráfico de drogas em si. É desnecessário, mas é tudo o que muitos conseguem ver.

A batalha contra o tráfico de drogas (e outras mais)

Muitas pessoas usam drogas. Por quê? Porque precisam fugir da sua vida cotidiana. Por quê? Porque estão perdidas e desesperançosas. Não sabem e não seguem o propósito maior de suas vidas e, por fim, pouco se conhecem. Isso acontece porque não possuem suficiente discernimento e força para suportar a pressão de uma sociedade doente, feita por pessoas nestas mesmas condições, que não lhes propicia esclarecimento, educação e oportunidades, mas apenas confusão. Nossa cultura ensina às pessoas valores e conceitos errados em relação à natureza e aos propósitos da vida humana. Despreparadas, muitas são presas fáceis à confusão que lhes foi imposta e acabam por usar drogas numa desesperada tentativa de fuga e alívio, além de outras razões. De forma bastante hipócrita, é a própria sociedade que maltrata e desorienta que fornece as drogas, tanto legais quanto ilegais.

As drogas ilegais são aquelas não regularizadas pela lei e cujos negócios que geram não rendem impostos para o governo. O combate no Rio de Janeiro foi contra os vendedores deste tipo de drogas. Estes comerciantes são chamados de traficantes e considerados bandidos. Uma quantidade bastante maior de drogas são consideradas legais. Estas não são alucinógenas, mas geralmente calmantes que fazem as pessoas suportarem o insuportável e, sem mais reclamar, ficarem eternamente paradas onde estão. Atualmente vivemos numa sociedade onde um alarmante (e não divulgado) número de pessoas sobrevivem pela metade, eternamente sedados e com seus sentimentos congelados. Uma população de robôs? Muitos chamam essas pessoas caladas e insensibilizadas quimicamente de saudáveis. Zumbis insensíveis e que não reclamam, resistentes ao trabalho e com reduzida capacidade de ver a realidade e de pensar, são criaturas muito convenientes ao verdadeiro inimigo. Obviamente, tais pessoas sempre pagam pelas suas drogas e recolhem impostos. Nesse comércio legal os vendedores são farmacêuticos e psiquiatras e os produtores são as indústrias farmacológicas. Nenhum é  considerado bandido. É importante ressaltar que assim como os psiquiatras não são, a princípio, bandidos, nem todo traficante é. Loucura? No entender de muitos, um psiquiatra que diz que uma criança possui deficiência de atenção com hiperatividade e lhe receita Ritalina, sejam quais forem suas razões, é um bandido cruel, assim como os ignorantes (ou apenas desinteressados) pais desta criança. Loucura? De quem?

A conclusão é simples: enquanto existirem compradores de drogas e pessoas dispostas a lucrar com elas ou simplesmente prejudicar populações inteiras, pelas razões expostas acima, não acabará o negócio criado em torno delas.

Para que uma droga chegue ao consumidor é necessário que ela seja produzida. Alguém a colhe na natureza, se ela estiver lá em quantidade suficiente e, se não, alguém planta mais. Alguém processa. Alguma fábrica farmacológica produz. Alguém transporta. Alguém divulga seus benefícios. Alguém vende e finalmente, alguém usa. Tudo isso requer muita organização, trabalho, dedicação e dinheiro. O negócio das drogas, legais ou ilegais, tanto faz, é propositadamente criado e mantido. E os usuários são, sem falsas hipocrisias, direcionados ao consumo. A mesma sociedade que proclama às pessoas que não usem drogas é a que as leva a isso e lhes propicia os meios para se drogarem. A mesma sociedade que ataca os métodos desumanos de vários traficantes é a que os cria e os usa.

Não devemos esquecer de outros negócios, muitos dos quais surgindo em torno deste das drogas. Um deles, enriquecido pelo das drogas, mas não dependente deste, é o de armas. Ora, o projeto, a manufatura, a produção, a distribuição e a venda de armamentos também requer muita organização, trabalho, dedicação e tecnologia. E gera muito lucro. Logo, muitos estão se esforçando, de forma bastante eficiente, para colocar armas no mercado. Armas caras, pois não falamos apenas do tipo de armamento que se usou no Rio, tanto pelos traficantes como pela polícia e exército, mas também de mísseis e armas nucleares que existem, dizem, para nossa “segurança”. O tráfico de armas, assim como o de drogas, é um grande negócio que precisa ser mantido através de infindáveis guerras e conflitos. Guerras nunca grandes o suficiente para aniquilar a humanidade (e os negócios), mas sempre moldadas a trocarem de endereço de tempos em tempos. Será que aquela humanidade de Jesuses, Krishnas e Budas manteriam este mercado? “Crianças não brincam com armas. E adultos não fabricam armas“: máxima de Luciano Pillar.

Voltemos à vitória contra o tráfico no Rio. Foram mortos muitos bandidos, provavelmente mais do que se anunciou na mídia, e um número menor de policiais. Foram apreendidas uma grande quantidade de drogas e de armas. Estas armas serão destruídas? Toda a droga será exterminada? Todos sabemos que não. Sendo assim, o que acontecerá com este material logo depois que (muito rapidamente no Brasil) tudo for novamente esquecido? Adivinhe! Eu voto na sua volta ao mercado.

E assim é. A produção não para. Os negócios não param. Por quê? Porque as pessoas com os problemas descritos logo no início deste texto também são as que criam os negócios e enriquecem com eles. Porque muito maior e mais grave do que os trilhões de dólares gerados pelos efêmeros negócios da violência e das drogas é a demasiada imaturidade e mal direcionamento do ser humano  no caminho de sua evolução. Na média, é claro, pois muitos já estão suficientemente mais avançados do que isso.

Então, amigos, foi feita sim uma ação benéfica no Rio, especialmente para os moradores das regiões afetadas pelo comando dos traficantes, mas isso não passa de um remédio que ataca a dor de cabeça de um doente com câncer. Muito provavelmente esta “guerra” foi uma mera decisão dos que mandam e que resolveram trocar o pessoal da distribuição. Ou para fortalecer a imagem da polícia e exército perante a população. Seja qual for a verdadeira razão, é possível que ela nada tenha a ver com simplesmente ajudar as pessoas porque, se fosse esse o caso, as pessoas já estariam sendo ajudadas há muito tempo com educação e saúde de qualidade, por exemplo, que são os serviços básicos a serem entregues pelo governo que tanto cobra por eles.

Solução de verdade? Eliminar a ignorância, a imaturidade e a maldade que geram a necessidade do consumo de drogas, por um lado, e do lucro através dos negócios nesta área, por outro. Como? Através da educação moral, espiritual e histórica. Incentivando as necessidades universais e humanas de amor e evolução. Buscando auxiliar todos a terem entendimento sobre quem são e quais os propósitos maiores da existência humana.